pego num lápis enquanto sonho


falas do pintor


Pego num lápis enquanto sonho
e desenho em ti sempre mais do que promete o dia.
Pego na pena leve dum pássaro
e coloco uma sombra de chuva no branco sublime
ou no branco só branco
perpendicular ao chão de pedra antiga.
Lajes e lajes solenes enfrentam decididas o tropel do tempo

Os cabelos da lua clara não se agitam.
Sob as arcadas do templo não deram as mãos

o amor e o medo.
Pego num lápis enquanto sonho
e não desenho o sol que me dilacera
desejo tão somente a luz filtrada pelos ramos verdes do silêncio
os pés pisando as folhas húmidas de pranto
o rio sacramental que lave minhas têmporas
ardidas de sal

Segredo que resolve meu ventre retorcido em cólicas
lidas nas páginas implacáveis
dum jornal.

Author: Costa Brites

j.costabrites@gmail.com

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